O evento teve uma proposta bem interessante de fazer a discussão. Os convidados e participantes iniciavam o diálogo a partir de perguntas geradoras, em estruturas de “aquários” (com as pessoas organizadas em círculo). O objetivo era criar um espaço mais horizontal onde todas as experiências relacionadas a mediação de conflitos e transformação nas relações pudessem sem trazidas e ampliadas e não apenas fazer apresentações seguidas de debate.
Essa metodologia promoveu um encontro mais concreto onde cada participante poderia se sentar no circulo central e trazer sua experiência. Muitos convidados interessantes! Muitas conversas intensas!
Mais do que respostas esse encontro nos trouxe perguntas e reflexões:
Em que momento nós nos desconectamos da natureza?
O que fazer quando a nossa naturalidade (se sentir homem ou mulher, por exemplo) vai contra o que é a norma?
Diálogo é diferente de discussão?
Mediação pode virar procedimento padrão nas instituições? Ou mediação é um acordo comunitário dentro da prática de diálogo?
Até quando os pedagogos permanecerão nesse silêncio obsceno?
E nós? Não somos o sistema?
O que está por traz da agressividade de uma fala?
O que já existe de resposta aos conflitos de um determinado ambiente? Quais funcionam e quais não funcionam?
Qual o contexto que estamos vivendo/trabalhando? É preciso curar a cegueira sistêmica que não nos deixa ver de onde as coisas brotam.
José Pacheco insistiu na afirmação de que a aula não ensina nada e que a escola brasileira tem a síndrome do pensamento único (onde nada pode mudar porque sempre foram dessa maneira) e a síndrome do vira-lata (onde o que é de fora, como modelos e autores, valem mais). Acredita que o mais importante é reunirmos nossas insatisfações relacionadas ao sistema escolar e coletivamente enfrenta-las. Tomar uma escola e modificá-la em vez de tirar os filhos da escola num trabalho solitário. Sente-se desmotivado, pois não vê nenhuma modificação concreta após seus encontros. Fica chocado com a quantidade de crianças infelizes e adolescentes se matando dentro da escola.
Dominic Barter falou sobre a necessidade de aguentarmos o desconforto do que nos angustia em vez de colocar uma pergunta esperando um resposta salvadora. Muitas vezes quando perguntamos o "como" delegamos o poder ao outro de dizer o que precisamos fazer. Também é necessário quebrar o silêncio individual, apresentar nossos medos coletivamente e ver o que surge a partir disso. E se tivéssemos coragem de falar : "Tirei o meu filho da escola". "Obrigo minha filha ir para a escola todos os dias". " Sou pedagoga e não tenho coragem de trabalhar na escola pública?" "O que posso oferecer para o meu filho além da sala de aula?". Colocar nossas perguntas internas para fora permite que mostremos nosso problema para o mundo.
Relacionado ao diálogo ele colocou que é uma conversa entre iguais onde se desconhece o fim. Não temos o poder estrutural sobre a outra pessoa que estamos dialogando. Mas o que acontece geralmente é que entramos numa conversa já com nossos argumentos construídos e querendo convencer o outro do quanto estamos certos. Já temos o final da conversa fechado em nossa cabeça.
Seguindo essa linha, Guto Gutierrez traz a escuta, o sentido e a confiança como estrutura para o diálogo. Não precisamos provar nossa verdade e sim buscar a verdade que existe ente uma pessoa/ideia e outra. A qualidade do pensamento afeta a nossa realidade. Como criar uma conexão para que o outro escute? Uma boa escuta afeta a qualidade do pensamento de quem fala também.
Nas conversas foi colocado também que a perspectiva que gerou/compartilhou um problema não é a mesma perspectiva que vai criar a solução.
Muita informação, muitos desafios, mas o mais importante é poder registrar essas perguntas/reflexões e poder visita-las observando o que vai mudando no nosso cotidiano. Muitas pessoas engajadas em construir uma outra maneira dialogar. Para nós da Casa Escola esse tema é muito importante, pois cotidianamente estamos nos relacionando com as crianças e suas famílias e sentimos muita falta em ter um espaço para cuidar de nós adultos, de nossa escuta e da nossa possibilidade de dialogarmos de maneira sincera e produtiva. Esse encontro apresentou novas perspectivas, agora precisamos aprofundar...
Além dos convidados citados ainda tivemos:
Julio Mafra - psicanalista membro da Escola Letra Freudiana
Sissi Mazzetti - investiga e trabalha com práticas que promovem o diálogo
Pedro Strozenberg - atua na área de Mediação Comunitária e Segurança Pública.
Cid Alledi - professor de disciplinas ligadas à ética nos negócios, diálogo, governança organizacional, responsabilidade social e sustentabilidade
Dany Garza - Consultora de sustentabilidade e fundadora da ONG Sustentarte,desenvolvendo programas de educação para a Sustentabilidade.
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