Inspirações

 2017
Nossas inspirações estão diretamente ligadas ao que vivemos e experimentamos cotidianamente. Com isso, ao longo de cinco anos de encontros fomos atravessados por diferentes situações e juntos construimos um processo de aprendizagem bem diferente do convencional. Vivemos, refletimos e estudamos como processos interligados que nos permite experimentar a tão sonhada práticateoriaprática. Nossa vida não se separa do que aprendemos como já anuncia Paulo Freire e diante disso nossas inspirações se ampliaram e se renovaram. 

Nossas escolhas teóricas conversam com nosso prática porque vivemos e a partir dos atravessamentos buscamos conhecimentos que reverbere essa prática. Nos últimos anos passamos por um mudança de perspectiva na Casa Escola. Desejamos construir práticas educativas antirracistas e para isso mergulhamos em estudos e conversas que nos apoiassem e dessem corpo a esse desejo.

Os motivos e os disparadores de pesquisas foram a prática cotidiana e a conversa entre todos os adultos/educadores envolvidos nesse processo, por isso sabemos que não está finalizada ou intocável, pelo contrário, está na roda para se transformar e seguir na potência dos encontros e afetos.

Assim, apresentamos a inspiração de nossa ancestral Azoilda Loretto da Trindade, que nos presenteia com os Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros na Educação Infantil, um legado que nos mobiliza a desconstruir modelos hegemônicos que apesar de tão arraigados em nossa cultura, muitas vezes não nos representa. Esse legado nos estimula a seguir sonhando e construindo práticas educativas outras que façam sentido para as crianças e adultos envolvidos nela.

Azoilda Loretto da Trindade, Pedagoga e Psicóloga, especialista em Orientação Educacional e Sociologia. Mestre em Educação e Doutora em Comunicação e Cultura. Consultora, assessora, coordenadora pedagógica de projetos sobre multiculturalidade, diversidade e relações étnicorraciais em articulação com a educação e práticas emancipatórias em organizações escolares e não escolares. Autora de diversos textos sobre diversidade cultural e étnica relacionadas à educação. Professora universitária, supervisora da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Ativista na luta contra o racismo. Uma mulher negra que nos deixou um legado rico e importante.

Azoilda, ao destacar os Valores Civilizatórios Afro-brasileiros tem a intenção de destacar a África, na sua diversidade, e o que os africanos e africanas trazidos ou vindo para o Brasil implantaram, marcaram, instituíram aqui seus valores. Valores esses inscritos na nossa memória, no nosso modo de ser, na nossa música, na nossa literatura, na nossa ciência, arquitetura, gastronomia, religião, na nossa pele, no nosso coração.

Reconhecemos na prática da Casa Escola esses valores cotidianamente vindo nos visitar, nos convidar, nos encharcar de possibilidades de viver uma dinâmica outra. Compartilhanos aqui esse legado e seguimos vivendo e buscando cada um deles em nossa prática educativa.


Valores civilizatórios -princípios e normas que corporificam um conjunto de aspectos e características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais, objetivas e subjetivas, que se constituíram e se constituem num processo histórico, social e cultural.

Trabalhar pedagogicamente, numa perspectiva afro-brasileira, convida-nos a criar, a imaginar, a sair de um lugar.

- alguns saberes, princípio e referenciais afro que podem ser implementados nos currículos escolares:

1) Axé - ENERGIA VITAL - tudo que é vivo e que existe, tem axé, tem energia vital. Tudo é sagrado e está em interação. Imaginem se nosso olhar sobre nossas crianças de Educação Infantil forem carregados da certeza de que elas são sagradas, divinas, cheias de vida. Podemos trabalhar a potencialização deste princípio nas nossas crianças, se nosso olhar, nosso coração, nosso corpo senti-las verdadeiramente assim.
Elogios, um afago, brincadeiras de faz-de-conta, nas quais elas se sintam a mais bela estrela do mundo, a mais bela flor, alguém que cuida, alguém que é cuidado. Um espelho para que elas se admirem, para que brinquem com o espelho, e se habituem a se olhar e a serem olhadas com carinho e respeito.

2) ORALIDADE – Nossa expressão oral, nossa fala é carregada de sentido, de marcas de nossa existência. Faça de cada um dos seus alunos e alunas contadores de histórias, compartilhadores de saberes, memórias, desejos, fazeres pela fala. Falar e ouvir podem ser libertadores. Promova momentos em que a história, a música, a lenda, as parlendas, o conto, os fatos do cotidiano possam ser ditos e reditos. Potencialize a expressão “fale menino, fale menina”. A fala, a palavra dita ou silenciada, ouvida ou pronunciada – ou mesmo segredada – tem uma carga de poder muito grande. Pela/Na oralidade, os saberes, poderes, quereres são transmitidos, compartilhados, legitimados. Se a fala é valorizada, a escuta também.

3) CIRCULARIDADE – a roda tem um significado muito grande,pois aponta para o movimento, a circularidade, a renovação, o processo, a coletividade: roda de samba, de capoeira, as histórias ao redor da fogueira… Com o círculo, o começo e o fim se imbricam, as hierarquias, em algumas dimensões, podem circular ou mudar de lugar, a energia transita num círculo de poder e saber que não se fecha nem se cristaliza, mas gira, circula, transfere-se...

4) CORPOREIDADE – o corpo é muito importante, especialmente para um povo que foi arrancado do seu território e trazido para o Brasil. Nesse caso o corpo é como um patrimônio muito importante. Como educadores e educadoras de Educação Infantil, precisamos valorizar nossos corpos e os corpos dos nossos alunos e alunas,não como algo narcísico, mas como possibilidade de trocas, encontros, como possibilidades de construções, produções de saberes e conhecimentos coletivizados, compartilhados. Cuidar do corpo, aprender a massageá-lo, tocá-lo, senti-lo, respeitá-lo é um dos nossos desafios no trabalho pedagógico com a Educação Infantil. Dançar, brincar, rolar, pular, tocar, observar, cheirar, comer, beber, escutar com consciência. Aparentemente nada de novo, se não fosse o desmonte de corpos.

5) MUSICALIDADE – Um povo que não vive sem dançar, sem cantar e sem sorrir e que constitui a brasilidade com a marca do gosto pelo som, pelo batuque, pela música, pela dança.
Vamos ouvir músicas que falem da nossa cultura, que desenvolvam nossos sentidos, nosso gosto para a música. Conhecer para promover.

6) LUDICIDADE – A ludicidade, a alegria, o gosto pelo riso, a celebração da vida. Se não fôssemos um povo que afirma cotidianamente a vida, um povo que quer e deseja viver, estaríamos mortos, mortos em vida, sem cultura, sem manifestações culturais genuínas, sem axé.

= FESTA: o movimento do corpo que festeja traz um elemento afetivo e lúdico importante para o dia a dia na educação, estabelecendo uma rede de encantamentos.

7) COOPERATIVIDADE – A cultura negra, a cultura afro-brasileira, é cultura do plural, do coletivo, da cooperação. Não sobreviveríamos se não tivéssemos a capacidade da cooperação, do compartilhar, de se ocupar com o outro. Não existe manifestação cultural negra individual.

8) MEMÓRIA - O povo negro carrega uma memória da nossa História que está submersa, escondida pelo racismo, que precisa ser descortinada, desenterrada.

9) RELIGIOSIDADE - Tudo é sagrado, é divino. Todos os elementos da natureza, todos os seres. A religiosidade para o povo negro, sequestrado da África, é uma estratégia de sobrevivência, resistência e sofisticação de processos, de recriação de realidades. Conhecer alguns desses processos de recriação de padrões é conhecer a história dos africanos e afrodescendentes.
Os processos religiosos são experiências educacionais desperdiçadas, invizibilizadas pelas lógicas hegemônicas.

10) ANCESTRALIDADE - O passado, a História, a sabedoria, os olhos dos/das mais velhos/as tomam uma enorme dimensão de saber-poder, de quem traz o legado, de quem foi e é testemunha da História e também sobrevivente. A dimensão ancestral carrega o mistério da vida, da transcendência.

* Essa escrita traz trechos do livro "O projeto Político Pedagógico na Escola - aplicação da Lei 10639/03 de Azoilda Loretto da Trindade.
Para aprofundar pesquise:
o projeto A cor da cultura: http://www.acordacultura.org.br/oprojeto

http://www.diversidadeducainfantil.org.br/PDF

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 Vivemos com a heterogeneidade  em nossa prática cotidiana e diante disso nos deparamos com a urgência de termos também uma heterogeneidade de referenciais teóricos e de ideias . A partir de motivações internas e desafios que nos mobilizaram para entender as questões de discriminação racial, por exemplo, fomos pesquisar teorias e práticas que trabalham com uma perspectiva para além da eurocentrica. A partir da Afroperpectividade, apresentada pelo Filósofo RENATO NOGUERA como "uma linha ou abordagem filosófica pluralista que reconhece a existência de várias perspectivas", apoiamos nossas reflexões sobre racismo e relações étnico-raciais na educação.

Renato Noguera é professor de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Leafro) e do Laboratório de Práxis Filosófica de Análise e Produção de Recursos Didáticos e Paradidátios para o Ensino de Filosofia da UFRRJ. Coordena o Grupo de Pesquisa Aforperspectivas, Saberes e Interseções (Afrosin). 

Esse homem negro nos convoca a olhar para nossas conversas, brincadeiras e dúvidas a partir da roda, do reconhecimento de uma ancestralidade, do questionamento da linearidade do tempo. Sua fala nos desloca, desacomoda, tira o sossego. Amplia nosso olhar e pensamento quando questiona os modelos tradicionais de educação pautados no eurocentrismo e na reprodução de saberes e conhecimentos tão distantes de nós. Aponta a existência de uma outra perspectiva possível.

Renato nos apresenta a infância falando de Baba Wagué Diakité, conversa sobre o tempo falando de Exu, indica textos sobre a filosofia UBUNTU de Mogobe Ramose, traz a possibilidade de vivermos o quilombismo de Abdias Nascimento, a sexualidade a partir do olhar de Sobonfu Somé, a afrocentricidade discutida por Molefi Asante e a perspectiva indígena do antropólogo Davi Kopenawa. Inúmero autores e autoras que não fomos apresentados durante anos de formação eurocentrada... Mas ele não para aí. Faz também uma articulação crítica entre a animação de Kirikou e Pinóquio discutindo o reconhecimento da ancestralidade no processo de conhecimento, apresentado em um desenho, e a reprodução de que o conhecimento só é possível na escola, apresentado pelo outro. Nos convida a repensar teorias e a observar como elas operam nos ambientes que vivemos.


A partir da prática nos aproximamos de Renato e seu aporte teórico que nos estimula a viver a afroperspectividade, as relações étnico-raciais, a infância, o tempo e a diversidade. Ele nos abre um baú encantado de conhecimento outros que exige de nós coragem e disponibilidade para vivê-los. A partir dessa experiência reconhecemos nosso desejo de:

- construir uma prática pedagógica antiracista;
- empretecer nossas ideias, escurecer nossos conhecimentos e encrespar nossas práticas;
- trazer o referencial da cultura negra para estar na Casa Escola;
- conhecer, discutir e viver os valores do povo negro;
- contribuir para que o conhecimento a partir da afroperspectividade seja vivido e reconhecido;
- ampliar e aprofundar o debate que questiona a naturalizada da história do mundo como eurocêntrica.

* Essa escrita foi inspirada em conversas com o mestre Renato Noguera e em seus livros: O ensino de Filosofia e a lei 10639 (Pallas, 2014) e  Relações Étnico-raciais e educação - contextos, práticas e pesquisas (EDUR, 2013).

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2013
Durante nossos grupos de estudos, que duraram 8 meses, fizemos várias leituras, discussões e participamos de encontros com educadores. As pesquisas e estudos continuam, mas nesse período fomos tocados e inspirados por três experiências que são:


1 - José Pacheco  e a  Escola da Ponte (Portugal)

Pacheco foi trabalhar com educação porque foi um aluno excluído, nasceu numa favela, trabalhou desde os 4 anos de idade e quando entrou na escola, com mais 66 alunos, só ele concluiu a 4a série. Queria ser engenheiro eletrônico, mas não entendia como a escola reproduzia o mesmo sistema há 200 anos. Então em nome dele e de mais 66 crianças resolveu trabalhar com Educação.

A Escola da Ponte até 1974 era igual as outras escolas. Tinha 3 professores para 90 alunos. Em vez de cada professor adotar uma turma com 30 alunos cada, resolveram juntar todos e trabalhar para promover a autonomia e a solidariedade. Chamaram os pais explicaram o projeto e perguntaram o que eles achavam. Até hoje os responsáveis apoiam e defendem esse modelo. 

A Escola da Ponte recebia e ainda recebe todos os alunos que as outras escolas não querem mais: crianças rotuladas, deficientes, com alguma síndrome, violadas, que não tem pais, que fogem de outras escolas, etc. Os alunos chegavam sujos, cheios de piolho, bêbados e com fome. José Pacheco afirma que toda escola precisa estar preparada para receber tudo e isso ela só conseguirá quando a equipe estudar, investir em grupos de estudos e fazer do espaço escolar o espaço de aprendizado.

Sua direção e contabilidade é feita pelos responsáveis e Pacheco afirma que tem 12 mil alunos e 12 mil professores. E escola é em todo lugar. Não há series, ciclos, turmas, anos, manuais, testes e aulas. Os alunos se agrupam de acordo com interesses em comum para desenvolver projetos de pesquisa. Não existem salas de aula, existem espaços educativos onde os alunos procuram pessoas, ferramentas e soluções. São divididos por 5 áreas: humanística (história e geografia), ciências, educação artística, linguística e tecnológica. O que os professores precisam ter para trabalhar lá é uma inquietação quanto à educação e admitir existir outras lógicas de aprendizagem.

Seus conceitos bases são solidariedade, a autonomia e a emancipação. Aprender a ser. Aprender a aprender. Aprender a conviver. 

O idealizador da escola alerta que a Escola precisa se transformar para que os alunos se sintam num ambiente com oportunidade de ser feliz e sábio e não ficar procurando um ambiente que permita a igualdade, pois somos todos diferentes. Diante disso eles trabalham com o Currículo Subjetivo, que é baseado nas perguntas das crianças. A resposta para qualquer pergunta é: “por que estás a me perguntar isso.” Depois disso a criança explica e abre uma possibilidade de pesquisa onde ela mesma procura respostas, cria o seu projeto, faz relatório e avalia.

E lá ainda tem várias estratégias pautadas na participação efetiva de todos os envolvidos e principalmente das crianças, tais como: Carta Magna da Escola, Definição dos Direitos e Deveres, Assembléia de Escola, Comissão de Ajuda, Debate, Biblioteca, Caixinha dos Segredos,Caixinha dos Textos Inventados,  Eu Já Sei, Eu Preciso de Ajuda, Professor Tutor e Grupos de responsabilidade. As crianças passam pelo 1º Ciclo, pelo Núcleo de Consolidação e pelo Núcleo de Aprofundamento.


José Pacheco nos alerta que "O modo como o professor aprende é o modo como o professor ensina. É importante integrar todos os serviços, pois a Escola é em todo lugar."

Essas informações foram resultados de alguns encontros com o José Pacheco e visita a página da Escola. Para saber mais acesse:http://www.escoladaponte.pt/site/ 



2 - Ana Thomaz 

Com ela refletimos sobre o papel da escola na vida das crianças. Ana Thomaz passou por uma experiência com seu filho mais velho que queria sair da escola e a partir daí começou a buscar respostas e querer entender como seria esse processo de desescolarização. Entrou em contato com a escola, propôs algumas ideias, mas viu que algumas coisas não teriam como modificar, pois a prática escolar é feita para servir a um sistema de governo que massifica. 

Entende por massificação a imposição de modelos a ser seguidos e a ilusão de que desejamos algo. O desejo na escola não aparece naturalmente. A criança tem alguns modelos que ela aprende a desejar e acaba acreditando que aquele era um desejo natural dela. Exemplo disso: a criança que acha que deseja ser o bom aluno, que precisa tirar notas boas, que deseja ter emprego, que deseja ser bem sucedida, que deseja ter dinheiro para ter as coisas, etc. Sendo assim, a escola contribui para as pessoas não saberem com o seu real desejo. Ela faz com que o indivíduo não saiba qual é a sua singularidade. Não é possível fazer parte de um coletivo se não formos singulares. 

Acredita que não somos seres racionais e sim seres emocionais, pois primeiro sentimos para depois pensar sobre. Somo seres emocionais dotados de razão, mas isso não é colocado, pois durante toda a vida somos “desinvestidos disso”, nos distanciando de nossas emoções.

No que se refere a maneira de educar os filhos, ela afirma que é importante cuidar de si diante deles. Assim, a criança, que observa, imita e ouve também os sentimentos dos pais, além das palavras, aprende na prática, em contato. 

Afirma que é necessário um trabalho de auto análise para tentar entender porque temos alguns comportamentos em relação a criança. Muitas vezes reagimos às suas ações com raiva, com frustração, com medo, mas sem nos dar conta disso. É preciso, no momento de um enfrentamento, buscar dentro de si que emoção que aflora naquela hora. "O que sinto quando vejo meu filho chorando, fazendo pirraça?" Muitas vezes queremos resolver na força física, no berro, na repreensão, tudo isso para resolver aquela situação, mas não nos damos conta de como aquilo chega na gente. "O que sinto nesse momento?" Não estamos acostumados a ouvir o que sentimos e assim não criamos espaços para termos insights de como resolver aquela situação. Ficamos apegados a formas, buscamos respostas dentro de modelos, como se fosse um padrão de comportamento que garanta o sucesso. E na realidade não temos garantia de nada. Criamos ilusões de garantias.

Acredita que existem três processos importantes no desenvolvimento do ser humano que a escola não ajuda a progredir, ao contrário, cria estratégias de opressão e desinvestimento desses processos. São eles:
- Processo emocional: A criança expressa o tempo todos suas emoções e lida com ela de uma maneira muito natural. Em questão de minutos consegue sentir raiva, chorar e rir com a mesma intensidade e rapidez. Em minutos sente tudo isso e volta a serenidade como se nada houvesse acontecido. Fluido e natural. A escola rompe esse processo natural. Ela impõe modelos e normas desconsiderando as emoções na aprendizagem. Todos devem se controlar, fazer suas atividades sem sair de um padrão de comportamento considerado adequado.

- Processo cognitivo: Capacidade de aprender. A porta de entrada para o desenvolvimento. A criança é 100% cognitivo aberto, mas a escola só trabalha com 5% do consciente e desinveste todo o resto.

- Processo físico: Precisa ser auto regulado. A criança tem o corpo articulado, pronto para a aprendizagem seguindo seus interesses. Sua coluna sustenta o peso da cabeça sem fazer compensações para frente ou para trás, liberando o peso do corpo de cima das pernas para o chão, deixando assim suas pernas livres para a movimentação. Quando a criança se interessa por algo ela fica de pé olhando para aquilo com o corpo todo. Não se desaba no quadril, não fica torta, não flexiona as pernas, simplesmente pára e escuta com os olhos, ouvidos, boca e todos os ossos. Nós adultos somos colapsados. Nossa coluna não sustenta um corpo em prontidão. A escola nos desinveste de nossos corpos. Na primeira série as crianças estão sentadas nos ísquios, na ponta da cadeira, olhando pra frente, sedentas de curiosidade, mas com o passar dos anos vão se deitando na cadeira, apoiando a cabeça nas mãos, desinteressadas.

Essas informações foram relatadas em um encontro com Ana Thomaz em 2013 no RJ e retiradas do seu blog:http://anathomaz.blogspot.com.br/

3- Pedagogia Waldorf

Com a Pedagogia Waldorf compreendemos a importância de criar um ambiente que respeite o ritmo de cada criança não antecipando seus processos e não colocando estímulos excessivos no seu cotidiano.


Nessa prática a  pergunta básica é: "O que eu, como adulto, como professor, tenho de fazer à frente de uma criança que, através do nascimento, entra no mundo? O que tenho que fazer para que esta criança possa realizar tudo o que traz consigo como faculdades inatas e que determinarão seu destino?"
O principal é sempre a própria criança.

O desafio é transformar o entusiasmo pelo brinquedo em entusiasmo pelo estudo e o prazer da brincadeira pelo prazer da aprendizagem. É através do jogo infantil que a criança põe em movimento sua fantasia, suas faculdades criadoras e com a experimentação desses fatos constrói uma nova realidade.

Nas escolas Waldorf não há reprovação e não existe boletim de classificação e notas, pois não pretendem classificar ou julgar numericamente. No boletim são escritas as informações que correspondem em extensão a uma longa  carta sobre cada discípulo, começando por se dar uma descrição, tanto quanto possível, do caráter da criança, seu modo de ser, etc e ao final, indica-se onde estão os pontos nos quais a criança deve concentrar sua maior atenção no ano seguinte. Estas informações finais não tem caráter de uma sentença judicial, e refletem apenas o melhor do esforço do professor em captar a totalidade da criança.

A classificação por notas não leva em consideração a responsabilidade, a sensibilidade,  o propósito de servir, de ser útil, as qualidades humanas, as esperanças que podemos depositar em alguma criança possa sobrepor-se às suas próprias dificuldades.

Valoriza-se o contato da criança com a natureza, com brinquedos de madeira, tecido e lã, além da contação de histórias pautadas na repetição. As salas de aula reproduzem o espaço de uma casa onde as atividades domésticas são desenvolvidas para que as crianças também aprendam com elas.

O brincar é colocado como muito importante na infância. Coloca-se que no mundo infantil não deveria caber a palavra “pressa”, pois leva-se tempo para crescer. Valorizam o desenhar livremente; o contato com a terra, a água e aareia; o correr, balançar e pular corda; atividades caseiras para a criança imitar; o ritmo saudável; o bom sono; a boa alimentação; os espaços amplos etc.

Somente no brincar a individualidade da criança é misteriosamente visível, quando ela “ensaia” de modo lúdico - brinca, atua, cria, se relaciona, constrói, experimenta, refaz - tudo o que depois será requisitado quando adulto. O brincar não direcionado é chamado de “brincar autêntico” e é caracterizado por: 
  1. ·       liberdade de metas a serem alcançadas;
  2. ·       sentimento de “o tempo está parado”;
  3. ·       devoção e concentração;
  4. ·       atenção e identificação com a ação realizada;
  5. ·       fluidez, movimento e transformação;
  6. ·       profunda satisfação ao terminar um brincar

O brincar saudável engloba vários aspectos. A criança esta atenta e focada, é capaz de perseverar com relação ao que lhe interessa, é curiosa, explora e traz novos temas para o brincar. Move-se num fluxo continuo de ações, brinca geralmente incluindo os outros, zela pelos seus amigos.

Como então podemos ajudar neste processo? Não sermos tão sérios com relação à vida, devemos ter mais leveza no nosso ser, nas relações e ações.

Algumas perguntas que nos ajuda a refletir sobre nossa prática:
“Como está o ambiente da criança onde ela brinca? Tem espaço para ela? Ela é incluída nos afazeres diários de uma casa.? Ela vê o adulto ao seu redor trabalhando em tarefas úteis e com sentido? Que tipo de brinquedos ela tem contato ? Há brinquedos de várias texturas, ou seu mundo esta envolto em plástico? A criança escuta historias contadas por um adulto? O adulto ao redor consegue poupar a criança de conversas de adultos, de idas frequentes a shoppings ou supermercados? Você caminha com seu filho, na rua ou na natureza? Ela tem espaço para realizar movimentos amplos? Ela tem desafios ou é poupado do perigo o tempo todo?”

Essas informações foram retiradas do livro "A educação Waldorf - Aspectos da Prática Pedagógica" de Helmut von Kugelgen e de alguns textos da internet:http://www.antroposofy.com.br/wordpress




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