quinta-feira, 19 de maio de 2016

Museu do Amanhã















"Crianças alegres e felizes
Chegando encapuzados
Fofinhos todos
Pulando
Naquele espaço lindo
Brincando
Interessados curiosos
E amorosos e cuidados
Entre si
Enfim
Tínhamos nas mãos
O amanhã do museu
De hoje"




quarta-feira, 18 de maio de 2016

Aventuras no Parque

Em Maio as crianças da Casa Escola tiveram uma tarde novinha em folha para brincar com os amigos Aventureiros nos Jardins do Museu da República.  Aventureiros é um grupo de crianças entre 4 e 8 anos que se reúne algumas tardes por semana para brincar. Um coletivo que tem as queridas Carolina Figueiredo e Andrea Romero acompanhando suas aventuras.


Nós da Casa Escola, que já gostamos de uma novidade, ficamos curiosos para conhecer esse grupo e marcamos um encontro tarde dessas. Chegamos de mansinho, e, ali no parquinho, as crianças foram observando, sentindo que havia uma parceria entre as educadoras dos dois grupos e aos poucos reconhecendo o outro brincante.

Brinquedos pra brincar na areia atraíram uma aventureira, depois uma pista para carros desenhada com giz no chão ficou seduzindo quem passava por perto para se aproximar mais e brincar junto. Aos pouquinhos foram falando seus nomes, observando a movimentação dos mais velhos e se soltando.

Fomos para perto da nossa querida Tamarineira para fazer o lanche. Abrimos nossas cangas, lanches e curiosidades. "O que é isso?" "Você quer um tomatinho?" "Cada um traz seu lanche?" "Você gosta de tangerina?" "Ah, ele não gosta de fruta nenhuma..." E assim com perguntas e alegria as crianças e as educadoras foram conhecendo um pouco da dinâmica do outro grupo.

Depois do lanche começou a vontade de correr e aproveitar para se esconder na gruta com o lago que estava sem água. Apareceu um monstro incrível que vira monstro e vira gente! Uma gritaria: "monstro, monstro, monstro!" Pronto! Uma rodadinha e já começam todas a correr dele/a. Quer dizer, quase todos, os maiores querem saber é de atacar o monstro, de desafiá-lo... Mas de repente uma vozinha fala: "Maria, Maria, Maria!" e o monstro vai embora deixando no seu lugar a educadora fazendo todas darem risada com a transformação. As crianças devem ter repetido essas frases trinta vezes.
E  pulando de um degrau pra lá, subindo nas pedras pra cá, todas vão se reconhecendo na movimentação, na ocupação dos espaços e nas cumplicidades para fugir ou pegar o monstro.

Já sabem alguns nomes e se interessam por saber quem vem buscar,  por contar onde vão todos juntos tomar banho depois... Proseiam.

E o lago sem água tem uma pedra linda que eles nomearam de "sofá" e que serviu para aconchegá-los para ouvir uma história no final da tarde. Primeiro ficaram de longe ouvindo e depois se aproximaram e pediram mais histórias, reconheceram livros e contaram suas aventuras.





Um encontro potente que começou de mansinho e terminou com gostinho de quero mais.
Precisamos concretizar mais momentos como esse, aproximar os pontos dessa rede de coletivos no Rio de Janeiro e possibilitar que as crianças desbravem essa cidade muito bem acompanhadas.
Seguimos atentos ao que vem pela frente e assim nos aventuramos juntos.






quarta-feira, 4 de maio de 2016

Narrativas diárias

" É  a reflexão sobre a experiência que é formadora, não a experiência por si só."
                                                                                                                         (Antonio Novoa)

Essa frase nos leva para a necessidade de pensar em como refletir sobre a experiência.
A experiência da Casa Escola não é resumida em atividades, propostas pedagógicas e acompanhamento de resultados. Nossa experiência é a lida diária com as crianças e suas famílias, é a construção cotidiana e coletiva de um espaço físico que seja acolhedor e seguro, é o planejamento de encontros entre o coletivo, a natureza e outros corpos.

Uma experiência que está em movimento o tempo todo.
As crianças com suas dinâmicas pessoais e fases de desenvolvimento específicas suscitam estudos, perguntas e exigem dos adultos (mães e pais educadores) um olhar sensível para suas descobertas e seus interesses.
O adulto está em um processo interno de observação da criança, buscando abandonar seu olhar escolarizado de julgamento e  avaliação.  Um processo novo, recente e desafiador.

Começamos nossos encontros para estudo em 2013. Nesse período estávamos pesquisando pedagogias e práticas educativas que norteassem nosso trabalho e nos dedicamos a leituras, compartilhamentos, buscas de referências práticas dos nossos desejos.
Com o início das nossas atividades em 2014, elegemos a prática dos relatos diários como uma maneira de dar visibilidade para todos os envolvidos no processo  que acontecia cotidianamente.

Um relato que marcasse os detalhes do encontro, mas que também trouxesse os sentimentos da mãe/pai que estavam como educador do dia. Não bastava relacionar as atividades, as conversas entre as crianças, as pesquisas, as alegrias e os conflitos que elas experimentavam. O mais importante era relatar fazendo parte da vivência, deixando transbordar cada expectativa com sua luz e sua sombra.
Relatos começaram a emergir em nossas caixas de emails.  Cada um com sua cor, com sua presença específica. Alguns seguiram em silêncio.

Os relatos são fontes de aprofundamento da prática, permitem um olhada mais profunda sobre determinado assunto, sobre determinada sensação, que muitas vezes em reuniões passa longe. Os relatos tem a força de um diário, um diário que vai ser aberto, que vai ser lido por no mínimo dez olhares diferentes. O que cada um escreve pode ser tornar outra coisa, pois está diretamente ligado ao lugar de quem lê, por isso escrever é um ato de coragem. É lembrar o que sentiu e expor ao outro sua fragilidade, sua natureza.

Uma escrita de si sendo constantemente escrita e lida permite um autoconhecimento. Inúmeras vezes sentimos um esclarecimento vindo no tom que o outro escreve, um desabafo tardio, uma intolerância, um julgamento de si mesmo, uma ternura para olhar para  o outro, uma certeza de que estamos fazendo o que tem que ser feito. Falas, dúvidas, certeza, tristeza, alegria... relatos que
alimentam quem lê. Os registros deixam de ser um evento particular e se tornam experiência compartilhada.

Na Casa Escola temos muitas perspectivas diferentes. Cada pessoa tem um lugar de fala construído em cima da sua cultura, da sua história de vida, dos seus desejos e medos. A partir disso aprendemos muito exercitando a escuta, respeitando a fala e colocando novos paradigmas. Com a argumentação de que o tempo é curto, muitas vezes parar para relembrar como foi nosso dia com as crianças e compartilhar com os outros pais, pode se tornar uma tarefa a mais, um exercício árduo, uma cobrança.  Mas a importância desse fazer e refazer é inquestionável, por isso nossos relatos, registros de reuniões, fotos, textos e conversas permitem que possamos olhar para nosso percurso e avaliá-lo, não no sentido de estarmos certos ou errados, mas com o objetivo de crescermos juntos com a prática, de não estarmos fixados em alguma ideia ou teoria.

Nosso grupo é formado por interlocutores privilegiados e cada troca e sistematização permite que olhemos para nós mesmos dentro de um contexto muito rico e diverso. Fazer, registrar, refletir e re-fazer é a dinâmica de um processo coletivo de conhecimento. Nesse tecer coletivo se faz presente a importância das narrativas pessoais que rememoram atitudes e questionam modelos e práticas tão consolidadas. Passamos por algumas crises, alguns silêncios, mas mesmo o que é escolhido para não ser dito já nos diz alguma coisa.

Reflexão coletiva para repensar nossa prática, mudar algumas estratégias e consolidar parcerias com novas famílias. Iniciamos 2016 assim, pesquisando nossa própria história para elencar o que nos é caro e que não podemos deixar de mostrar. Podemos olhar para os erros e saber exatamente porque aconteceu, onde esquecemos de nos consultar, o que perdemos no caminho. Com essa olhada pra trás conseguimos organizar a casa, refinar o olhar, rever nossos objetivos.

Mas a falta de tempo segue na nossa cola e fazemos disso nossa desculpa para os silêncios. Precisamos partilhar mais. Precisamos nomear nossos sentimentos. Precisamos nos reconhecer na fala do outro.
Somos sensíveis, observadores e aproximamos o pensar do fazer a cada vez que olhamos criticamente para nossa prática.

Sigamos nesse caminho, pois para nossa experiência render frutos ela precisa acontecer sempre, ser sistematizada, visibilizada e sobretudo, ser coletiva.