Esse projeto foi pensado e escrito por oito pessoas, os quatro casais que iniciaram a proposta, sendo finalizado em fevereiro de 2014. De lá pra cá estamos experimentando o que escrevemos e também outras coisas que nem sabíamos que experimentaríamos.
No primeiro mês de convivência das crianças na Casa Escola fizemos uma avaliação para observar se realmente estávamos caminhando na direção proposta, mas entendemos que precisamos reavaliar o projeto devido a algumas mudanças acontecidas no processo, entre eles a entrada de mais duas famílias que não participaram desse momento inicial.
Esclarecido isso, segue o desenho de nosso sonho:
Casa Escola:
Um Projeto de Educação
Pais e Mães:
Alejandra Eismann
Gabriel Pantoja
Geisa Ferreira
Bruno Pizzi
Johanna Salazar
Andrés Góngora
Luana Maria
Gustavo Bragança
Maria Rocha
Leonardo Bungarten
Marta Vargens
Marcos Oliveira
Crianças:
Ana Sol Pantoja
Vicente Pizzi
Antonia Salazar
Iara Bragança
Manuela Bungarten
Raul
Em 2011 algumas mulheres com
trajetórias diversas encontraram-se compartilhando uma sala de aula sobre corpo
e educação no Rio de Janeiro e, pouco depois, participando de uma experiência
ainda mais transcendental: a chegada do primeiro filho. As crianças cresceram
rapidamente e o pequeno grupo deparou-se com a necessidade de achar um lugar
para deixar os filhotes. Tempo para os pais e bons cuidados para as crianças
foram as principais preocupações naquela época. Começou então a procura da “creche”,
porém os espaços educativos, em sua maioria, seguiam o modelo tradicional de
educação onde há uma desvalorização do corpo; uma relação autoritária entre o
educador, o cuidador e a criança; uma imposição de atividades para serem
desenvolvidas em um tempo pré-determinado (desconsiderando a potencialidade e
os ritmos individuais); uma falta de contato com o entorno e uma limitada
participação da família, especialmente dos homens, nas dinâmicas pedagógicas.
I. Como foi
que começamos?
A procura de uma escola[1] no
Rio de Janeiro pelo grupo de mães e seus parceiros mostrou que os espaços que
trabalham na contramão da lógica do cuidado massivo e terceirizado são escassos
e muito caros. Diante desse contexto o pequeno grupo, que foi ganhando novos
integrantes com a entrada de outro casal, pensou na possibilidade de se juntar
para construir um projeto educativo próprio aproveitando a flexibilidade de
tempo e os talentos de cada um, pensando naquilo que podemos fornecer,
além da presença e além do cuidado[2]. Assim, decidimos pesquisar novas práticas,
estudar teóricos da pedagogia, conhecer novos olhares e construir um projeto
coletivo de educação para a autonomia e a liberdade[3].
Percebemos
que além da procura de um espaço educativo a busca de uma escola era uma necessidade
dos pais, que tem a ver com a gestão do tempo, a produtividade, a vida de casal,
a pressão social que entende a institucionalização como parte do
desenvolvimento das crianças (e como uma questão apenas de direitos) e com a
ideia de que as crianças devem se socializar em um espaço diferente à família
para fazer novos relacionamentos e aprender a lidar com conflitos. Em suma,
somos parte de uma sociedade que obriga a afastar a vida domestica da vida escolar.
Sem desconhecer que a instituição educativa tem um lado positivo como espaço
externo à família, a nossa escolha tenta ser diferente: queremos construir uma escola na casa de uma das famílias associadas ao projeto e propiciar um espaço no qual
todos participamos como educadores e educandos; deixar as nossas crianças em um
lugar seguro com pessoas de nossa confiança; fazer realidade uma visão de mundo
segundo a qual é possível misturar criativamente educação e cuidado.
Começamos nos reunindo a cada 15 dias, sempre em uma casa diferente. Esses
encontros foram um espaço de diálogo mas também de experimentação e
brincadeira. No começo pensamos em trabalhar sem crianças, apenas os pais, mas não
foi possível, ninguém conseguiu arrumar babá. Trabalhamos pois, em meio ao
barulho, tentando cuidar das crianças, deixando elas brincarem e, ao mesmo
tempo, dialogando sobre as implicações da nossa escolha. A respeito pensamos
que devemos focar nas relações, na criação de um espaço-tempo que nos permita
descobrir um caminho para formarmos propiciando e descrevendo interações entre
pessoas, materiais e espaços (a casa e além). Trata-se de sincronizar tempos vitais e de aprendizagem, por meio da
construção de um espaço de criação, brincadeira, vivencia e pesquisa.
Os assuntos
centrais debatidos em nossos encontros podem se resumir nas seguintes questões:
Como ser ao mesmo tempo pais e educadores? O que vai mudar no cotidiano da
família que vai emprestar sua casa para fazer a escolinha? Como lidar com o
conflito entre crianças quando os cuidadores/educadores são os próprios pais?
Como atingir certa objetividade e imparcialidade? Como trabalhar em uma casa
que é tanto espaço íntimo quanto lugar de trânsito, brincadeira e formação?
Como é que um espaço doméstico vira espaço pedagógico e como é que um espaço
pedagógico pode ser efetivado em um espaço doméstico? Quanto é que custa e
quais são os materiais básicos para montar uma escolinha? Que mudanças devem
ser feitas na organização do espaço e na arquitetura da casa? Como sistematizar
e avaliar a experiência?
II. Objetivo
Construir um espaço-tempo educativo e de cuidado para crianças e pais
que privilegie o desenvolvimento corporal, cognitivo e espiritual de cada
participante, respeitando assim os ritmos individuais, a diversidade e
estimulando a convivência com o coletivo e com a natureza.
Objetivos específicos
1. Desenvolver um conjunto de práticas de educação e cuidado com a participação ativa dos pais e das mães que fazem parte do projeto.
2. Promover uma experimentaçao com espaços, materiais e ritmos a fim de desenvolver a potencialidade das crianças.
3. Descrever as relações da experiência de educação ativa com seu entorno natural e social.
4. Avaliar e sistematizar a experiência.
2. Promover uma experimentaçao com espaços, materiais e ritmos a fim de desenvolver a potencialidade das crianças.
3. Descrever as relações da experiência de educação ativa com seu entorno natural e social.
4. Avaliar e sistematizar a experiência.
III. Nossos Desejos
1. Um processo que pressupõe a existência de perguntas para alimentar a curiosidade e consolidar a autonomia.
2. O exercício da liberdade através do encontro com o outro.
3. Uma “alfabetização social” onde o valor do saber de cada pessoa envolvida com o processo seja reconhecido como educação.
4. Fazer parte das perguntas, dos questionamentos e dos sonhos de cada criança.
5. Criar um vínculo amoroso com todos os envolvidos e com os espaços que serão ocupados.
6. Refletir sobre as práticas e consolidar um projeto pedagógico alternativo.
2. O exercício da liberdade através do encontro com o outro.
3. Uma “alfabetização social” onde o valor do saber de cada pessoa envolvida com o processo seja reconhecido como educação.
4. Fazer parte das perguntas, dos questionamentos e dos sonhos de cada criança.
5. Criar um vínculo amoroso com todos os envolvidos e com os espaços que serão ocupados.
6. Refletir sobre as práticas e consolidar um projeto pedagógico alternativo.
IV - Dinâmica / Prática
O primeiro momento da execução do projeto é o planejamento. Nessa atividade, fundamental para organização dos recursos, considerou-se o orçamento (custos iniciais e mensais), a seleção e procura de matérias, a construção e adequação de espaços físicos e a distribuição de responsabilidades e tempos.
A colocação do tempo, do esforço físico e intelectual no cuidado diário
das crianças será realizado por todos do grupo. Isso será possível através de
um sistema de rodízio, onde um pai ou uma mãe se dedicarão um dia por semana
aos cuidados das crianças. Esses cuidados serão divididos com uma
pedagoga/educadora/mãe que se dedicará durante toda a semana.
Essa característica é uma alternativa para criar um ambiente que
propicie um reconhecimento da responsabilidade pelos cuidados infantis para
ambos os sexos e não apenas como uma característica e/ou obrigação feminina.
A rotina tem como objetivo promover a concentração nas atividades, no
grupo e no espaço, através de um programa semanal com atividades externas,
internas e fixas. Essa concentração também será consolidada com um espaço
organizado e com poucos estímulos, pois reconhecemos que o espaço da casa, da
família e da cidade de maneira geral, já cria um ambiente de super estímulos
contribuindo para a pouca escuta interna e percepção de si e do outro.
As atividades são pensadas para desocupar a criança, ou seja, para que
elas não tenham obrigações. A proposta é fazer a transição entre as atividades
de acordo com o interesse de cada um, respeitando seus desejos e necessidades e
não impondo um ritmo ou um tempo restrito, exceto para atividades que dependam
de área externa ou implique o envolvimento de outras pessoas.
A avaliação será sempre com o foco nos objetivos do projeto, para que
possamos replanejar sempre que possível e repensar a nossa inserção nesse processo.
As crianças serão acompanhadas diariamente e não haverá um modelo de
competências ou habilidades para ser alcançado. Pelo contrario, vamos focar na
descrição de rotinas e interações entre pessoas (adultos e crianças),
materiais e espaços (físicos e simbólicos) usando técnicas simples de
etnografia e pesquisa qualitativa.
Haverá reuniões depois de cada rodizio (de 15 em 15 dias) para que
possamos validar cada etapa do projeto e entender as questões suscitadas
durante o dia a dia.
V – Como fazer
1- Encontros diários de 13h às 18h na casa de uma das
famílias associadas ao projeto.
2- Atividades externas (centros culturais, parques, jardins,
pracinhas etc.) pelo menos duas vezes por semana.
3- Músicas e histórias pautadas na repetição.
4- Atividades manuais com tintas, lápis de cera,
aquarelas, papéis, sementes, folhas, galhos, etc.
5- Oficinas de construção de brinquedos.
6- Brincadeiras que privilegiem a coordenação motora e
o deslocamento através de objetos de madeiras, rodas, portas e janelas,
barracas, caixas, tecidos, barras.
7- Envolvimento com atividades de asseio e limpeza do
espaço.
8- Contato com o alimento através da participação na
construção do próprio lanche sempre que
possível e de uma horta coletiva.
9- Acesso a livros preferencialmente de gravuras ou
com poucas palavras e/ou números.
10-Muitos banhos de piscinas, mangueira e baldes.
11-Privilegiar uso de matérias naturais, artesanais e
reciclados em detrimento do uso de eletrônicos.
[1] Adotamos o termo “escola” por suas
conotações pedagógicas e epistemológicas (espaço de educação ativa e
horizontalidade entre seres que se encontram) em oposição da palavra “creche”,
vocábulo de origem francês que significa: “Asilo diurno para crianças pobres”
(Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 1968).
[2] O grupo conta com pessoas formadas em
diferentes disciplinas: educação, pedagogia, dança, arquitetura, engenheira,
biologia, psicologia e antropologia.
[3] A proposta está inspirada nas ideias de Ana
Thomaz sobre autoeducação (http://anathomaz.blogspot.com.br/) e José Pacheco sobre escola-de-redes, a
pedagogia Waldorf e os projetos educativos da Escola da Ponte (http://www.escoladaponte.pt/) em Portugal e do Colegio Unidad Pedagógica (http://colegiounidadpedagogica.edu.co/) na Colômbia.
Legal! Estive com o meu filho no parque Lage ontem e vi vocês. Parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirParabéns pelo projeto.
ResponderExcluirQue lindo projeto! Gostaria, se possível, do contato de vocês para trocarmos experiências.
ResponderExcluirTenho muita dificuldade né inclusão dos meus filhos especiais na escola. Sonho seria a escola em casa. Em oração
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