sexta-feira, 11 de março de 2016

Casa Escola no Astrolábio

O Astrolábio, um portal digital do Instituto Tear, fez uma matéria sobre "Educação dos filhos, uma tarefa partilhada" e convidou o Coletivo Casa Escola para contar um pouco de sua experiência. Maria Rocha, educadora, mãe e uma das idealizadoras do projeto relata o percurso do coletivo nessa entrevista:
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Por Ana Emília
Dúvidas são frequentes quando o assunto é a educação dos filhos. Além da árdua tarefa de conciliar todos os afazeres cotidianos com a participação efetiva no processo de aprendizado, é desejo comum a todos os pais e/ou responsáveis buscar uma educação que permita uma proximidade entre a criança, a família e os educadores.
Pensando nessas questões, os pais e mães do “Casa Escola” buscaram uma alternativa colaborativa que favoreça a educação dos pequenos e a interação entre seus pares. O coletivo criou um projeto que privilegia o espaço-tempo educativo e de cuidado com as crianças, em atividades formuladas pela rede de pais participantes do projeto.  Desenvolvimento corporal, cognitivo e espiritual além do respeito aos ritmos individuais e  a diversidade são os guias dos trabalhos do “Casa Escola”, é com essas ferramentas que o grupo diz estimular a convivência com o coletivo e com a natureza.
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Confira a entrevista com Maria, uma das idealizadoras do projeto:
Quais eram os interesses, planos e angustias comuns ao grupo quando vocês decidiram se reunir para criar o casa Escola? Existia divergência de opiniões sobre a gestão do projeto?
Éramos três mulheres juntas em  pós graduação em Corpo, Diferenças e Educação. Tínhamos muito em comum, inclusive o fato de estarmos ao mesmo tempo gerando nossos primeiros filhos. Quando nossas crianças tinham um ano e meio aproximadamente, sentimos a necessidade de buscar um espaço coletivo com o qual pudéssemos dividir a educação e os cuidados dos nossos pequenos. As críticas ao espaço escolar tradicional eram comuns a estas três famílias e decidimos então optar por um caminho novo. Uma criação totalmente nova para todos nós, mas que desde sempre fez absoluto sentido. Ainda que não soubéssemos ao certo o caminho que trilharíamos, tínhamos algumas certezas em comum sobre o que não gostaríamos de reproduzir, sobre experiências que vivemos enquanto filhos, alunos ou professores e que não gostaríamos que fizessem parte do processo de aprendizagem dos nossos filhos.
Você poderia me dizer como é a rotina dos adultos e crianças dentro do Casa Escola? Como vocês se organizam?
Nos encontramos diariamente durante as tardes, de 13:30 a 18:30. Hoje estamos em dez famílias, onze crianças. Quando estamos em nosso espaço, em Santa Teresa, achamos três adultos um bom numero para estar com esta quantidade de crianças. Quando estamos fora, em passeios, temos um ou dois adultos a mais, dependendo do local. Destes adultos, dois são educadores fixos, duas mães do projeto que recebem salários para exercer esta função, e os outros são pais e mães que se revezam em sistema de escala.
Na divulgação da página de vocês, existe um marco, que define uma data de início e uma data de fim de ciclo do projeto (2014). O que mudou dessa data em diante? Quais as experiências vividas nesse ciclo vocês carregam na bagagem para serem usadas novamente?
Nosso processo começou em julho de 2013 quando iniciamos encontros que mesclavam estudo, diálogos, mas também experimentação e brincadeira. Trabalhamos em meio ao barulho, cuidando dos pequenos, deixando que eles brincassem. Entendemos que estávamos experimentando justamente a criação deste espaço/tempo que mescla criação, vivência, brincadeira, pesquisa… Durante o ano de 2014 nos encontramos diariamente na casa de uma das famílias do coletivo, éramos 6 famílias com crianças de um e dois anos. No primeiro semestre deste ano uma das famílias teve seu segundo filho e isso gerou um movimento que veio a ter reflexos importantes na nossa organização como um todo. No final do ano de 2014 esta família já estava se reunindo com outras 5 famílias e um grupo de bebês iniciou atividades diárias em fevereiro de 2015. A história linda que vivemos na casa da família que nos recebeu estava chegando ao fim, ao mesmo tempo que nossos anfitriões sentiam necessidade de retomar sua casa apenas como espaço íntimo, o coletivo sentia que um espaço específico para nossa atividade nos proporcionaria uma organização mais coerente com todo nosso pensamento acerca da prática educativa que nos propomos. A chegada de novas famílias ao coletivo nos proporcionou financeiramente este ganho. Desde julho de 2015 estamos convivendo neste espaço que pensamos e produzimos especialmente para nossa atividade.
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O Casa Escola se inspira em algum movimento ou método para a gestão do grupo?
Não nos inspiramos inicialmente em nenhum movimento específico. Nossa organização coletiva, e a certeza de que é possível convivermos em grupo em formatos mais democráticos, nos fizeram gerir desde o principio nosso projeto de forma horizontal fugindo do formato hierárquico no qual nossa sociedade ainda, predominantemente, se sustenta. Hoje, vivendo essa construção diariamente, percebemos sim semelhança com o formato das Escolas Democráticas. Temos um grupo adulto bastante diverso de formações e interesses e cada um dos envolvidos no projeto acaba tomando para si funções que vão além da participação na rotina com as crianças, atividades variadas que se fazem necessárias para nosso funcionamento pleno. As adaptações no espaço, a organização de eventos externos, o acompanhamento e planejamento das finanças, o planejamento das escalas de pais, as atualizações no blog, compras semanais, são algumas das tarefas existentes que demandam a organização do coletivo para que sejam supridas, e os adultos se encarregam das funções de acordo com sua identificação, interesse e disponibilidade. Assim como, tomaram a frente da prática diária com as crianças os adultos que têm interesse específico por esta parte. Esta gestão democrática é a única forma de nos organizarmos coletivamente em coerência com a prática que nos propomos todos os dias junto às crianças. Estamos na nossa rotina desinvestindo do formato autoritário e centralizador e isso vigora em todos os âmbitos do projeto.
Muitos de nós, ou quase toda a nossa geração, foi educada dentro dos padrões de uma escola tradicional. Como propõe Ana Thomas, “para uma educação renovada precisamos tirar a escola de dentro de nós”. Gostaria de saber se esse impasse, acerca dos modelos de educação que marcaram a trajetória da grande maioria das pessoas, surgiu em algum momento no Casa Escola. Caso os impasses estejam acontecido, qual foi a forma de lidar com ele?
Esta questão está absolutamente presente em nós. Foi muito rápido até percebermos que este olhar para nós adultos seria o grande desafio que nos moveria nesta jornada. Estamos diariamente refletindo sobre estes padrões que nos habitam e avaliando quais deles fazem sentido para nós e quais acabamos reproduzindo apenas por hábito. E a partir disso buscamos dialogar e criar saídas para as inúmeras situações cotidianas que um grupo de crianças entre um  e três  anos pode nos proporcionar. São sempre reuniões longas onde todos do coletivo estão presentes, visto que praticamente todos os adultos participam do rodízio de pais e desta forma lidam diariamente com as crianças dentro do ambiente da CasaEscola.
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Para conhecer mais do Astrolábio e Tear: http://institutotear.org.br

2 comentários:

  1. Incrivel o projeto de vcs! Parabéns!!!
    venho pesquisando e estudando sobre esse formato. tenho muito interesse, tenho uma bb d 3 meses. se tiveres dicas de como começar ou algum grupo se formando/encontrando tenho mto interesse
    Grata desde já
    Patricia
    psi.patricialobato@gmail.com

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  2. O Astrolábio admira muito o trabalho de vocês. Queremos o Casa Escola sempre por perto. Deem notícias sobre os projetos.

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