terça-feira, 26 de maio de 2015

Casa Escola na UNI RIO - Aprendizado e reflexão

No dia 16 de Maio o Coletivo Casa Escola participou da abertura da IV Semana de Educação da UNIRIO com o Fórum Fina Flor.
O objetivo do encontro foi promover um debate sobre o modelo educacional vigente abordando suas limitações e reproduções seculares e apresentar propostas de pedagogias libertárias, libertadoras, ecológicas e transgressoras atuais e antigas que subvertam esse modelo. 

Foi um encontro muito potente, pois nele havia  profissionais de educação em diferentes contextos. Tivemos os que questionam o modelo tradicional, mesmo estando dentro dele durante muitos anos, professoras de educação infantil, que estão procurando uma especialização que alimente sua prática cotidiana pautada no respeito a criança e a necessidade de brincar, e pessoas interessadas em educação, que atuam no cotidiano com crianças e que acreditam que a natureza, o contato com a comunidade articulados com a  escuta e observação da criança possam construir uma prática educativa prazerosa.

Muito inspirador e renovador participar das discussões, ouvir as novas práticas e entender que desde que a escola existe há um grupo de pensadores, educadores ou malucos, que acreditam que é possível subverter esse sistema educacional e propor algo que faça sentido para os envolvidos.

Léa Tiriba, coordenadora da Pós Graduação de Educação Infantil, iniciou os trabalhos apresentando o professor José Damiro de Moraes, professor da UNIRIO.  Sua apresentação trouxe pensadores que apostaram na educação Anarquista e  palavras como mutualismo, cooperação e liberdade relacional dispararam na construção de conceitos que deram base para a educação integral. Integral no sentido de privilegiar o todo, a relação do ser com a arte, a natureza, práticas corporais, trabalho e aprendizado a partir da experiência. Os autores que norteiam sua pesquisa são - Willian Godwin, Pierre Joseph Proudhon, Bacunin, Paul Robin, Sebastien Faure, Francisco Ferrer entre outros.

A seguir, Maria Sirley dos Santos - AELAC ( Associação de Educadores da América Latina e Caribe) aprofundou o tema da educação integral com foco nos pensadores da América Latina. Ela mostrou como José Marti (Cuba), Simon Rodrigues (Venezuela), José Carlos Mariategui (Peru) e Paulo Freire foram pensadores/educadores que se debruçaram para disseminar uma educação pautada no sujeito e seu contexto. Tinham como ponto comum a valorização da na unidade entre sentimento, pensamento e ação e a urgência de entender arte, literatura e política como alicerce para o desenvolvimento de um povo instruído, que significa um povo criativo e livre. Todos defendiam a escola pública e gratuita, entendida como o centro da transformação social.

Ambas apresentações trouxeram práticas, em pleno século XIX, pautada na integralidade do sujeito com o ambiente. Escolas que tinham aulas de marcenaria, artes, natação, jogos corporais, construção de hortas pelos alunos, passeios no campo, administração através da auto gestão, formação de trabalhadores, turmas mistas, articulação entre a comunidade e a escola, participação dos alunos nas decisões, enfim, práticas que parecem atuais porque é o que buscamos agora, mas na realidade sempre existiram porque sempre houve um grupo que questionou o modelo imposto.

Finalizando tivemos a professora Catarina Lozinsy que trouxe experiências do Brasil que trabalham acreditando na cooperação entre comunidade e escola, entre pais e professores e entre natureza e tecnologia. Com vídeos e conversa ela apresentou os projetos do Jardim do Joá (RJ),  Tearte (SP), Ancora (SP), Escola Viva (BA),  Tião Rocha (CPCD em diversos estados) entre outros. A ideia foi mostrar que atualmente também existem grupos que discordam do sistema educacional e que apresentam novas formas de viver essa relação entre o sujeito e o conhecimento, entre a criança e o ambiente, entre o ser e o fazer.

Na parte da tarde a roda de conversa sobre novas práticas trouxe o projeto da Urca (Lais), o Cria (Helena), o Coletivo A si fon fon (Caroline), Jardim do Joá (Carolina) e o Coletivo Casa Escola (Geisa) para conversar com professoras de educação infantil. Esse grupo de professoras está em sala de aula de escolas públicas no estado do Rio de Janeiro. As professoras se debatem o tempo todo com as diretrizes educacionais que para elas não fazem sentido, tais como iniciar o processo de alfabetização aos 4 anos,  controlar o tempo que a criança pode correr e brincar, passar folhinhas para cobrir desenhos e letras,  fazer trabalhinhos com resultados iguais e apresentar para a família como se fosse algo único e original, reproduzir datas comemorativas que servem ao consumo e a competição, entre outras. Todas são sutis imposições. 

O mais rico e potente de sentir foi a energia de luta contra o conformismo e a reclamação. Elas estão se especializando porque já não acreditam nesse modelo excludente e limitador e apostam em outras saídas. O curso é uma respiro, uma poesia que inspira e fortalece. 
Várias são da baixada, da zona norte e até mesmo de municípios mais longínquos. Pegam ônibus e atravessam a cidade, depois de uma semana em sala de aula,  para passar o sábado entendendo/construindo que é possível fazer de outra maneira. Que é possível acreditar na criança e em suas demandas, ouvindo e observando seus movimentos, desejos e sonhos. O jardim de infância é o lugar que se cultiva a infância, um lugar para se regar, colocar adubo, preparar o solo, plantar, florescer. Apesar do sistema, das normas e diretrizes quererem deixar o jardim arenoso tem muitas pessoas que não desistem e que todos os dias trazem um pouco de água e disfarçadamente colocam mais uma semente na terra.
Nossas crianças crianças são seres criativos e amorosos. Precisam de amor e um ambiente seguro para florescer. Simples assim.
Essas professoras que estão dentro do sistemão precisam respirar, precisam estar em outras redes, precisam de muita empatia. 

Obrigada Catarina pelo convite. O encontro gerou aprendizado e muitas reflexões. Seguimos nos encontros. 

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